Notícias › 29/05/2019

A Igreja hoje celebra o dia de São Paulo VI: Um martírio branco por defender a vida!

A data de 29 de Maio de 2019 deveria entrar para a história. É a primeira vez que a Igreja celebrará a festa litúrgica de São Paulo VI, recém declarado santo.

 

Giovanni Montini, de nome de batismo, tornou-se Papa Paulo VI em 1963 em meio de grandes desafios. No mundo ganhava força a revolução sexual e na Igreja acontecia o Concílio Vaticano II, convocado em 1961 pelo Papa João XXIII. Seu pontificado foi de 15 anos (21/6/63-6/8/78) e neste tempo publicou 12 exortações, 7 encíclicas e dezenas de outros documentos. Foi em seu pontificado que o Concílio Vaticano II publicou um importante documento, a Constituição Apostólica Gaudium et Spes que situa a Igreja no mundo atual e aborda, entre tantos outros assuntos, o respeito pela vida humana, bem como cita a questão da regulação dos nascimentos.

 

Não foi somente o Concílio Vaticano que foi continuado por ele, mas também a Comissão Pontifícia sobre a População, Família e Natalidade instituída por João XXIII. Esta não tinha como objetivo reavaliar a doutrina da Igreja sobre a transmissão da vida. Seu objetivo era responder a questões apresentadas pela ONU sobre controle de natalidade e crescimento populacional e tinha como previsão a realização de algumas reuniões.

 

Contudo, com a morte de João XXIII logo após a criação da comissão, coube a Paulo VI dar continuidade aos trabalhos que acabaram esbarrando em questões teológico-morais, principalmente diante da pressão pela liberação dos anticoncepcionais. Com grande apreço pelos assuntos referentes à família e transmissão da vida, decidiu ampliar a comissão, introduzindo cientistas de várias áreas como da medicina, biologia, geografia, sociologia e também casais.

 

É de fácil conclusão que esta comissão, que funcionou até 1966, foi palco de grandes disputas e pressões. Segundo notícias que vazaram na imprensa da época, sua grande maioria era favorável à permissão do uso de anticoncepcionais como a pílula e outros métodos artificiais. Com a recente abertura dos arquivos do Vaticano pelo Papa Francisco ao Mons. Gilfredo Marengo, professor do Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e da Família, temos através de seu livro, O Nascimento de uma Encíclica: ‘Humanae Vitae’ à luz dos Arquivos do Vaticano, novas informações como a decisão de Paulo VI de aproveitar o sínodo dos bispos de 1967 para fazer uma sondagem sobre a regulação da natalidade. Mons. Marengo aponta que, dos 199 bispos presentes no sínodo, 25 enviaram suas contribuições e destes, somente 7 se mostravam favoráveis à manutenção na integralidade da doutrina contra a anticoncepção. Entre estes estava o bispo Fulton J. Sheen de Rochester, EUA e o bispo Karol Wojtyla (São João Paulo II) de Cracóvia, Polônia.

 

Um sacerdote que trabalhava na Secretaria de Estado do Vaticano nesta época, o Pe Felice, relata o dilema de Paulo VI que precisava fechar a questão e tinha dois textos à sua frente. São Paulo VI passou uma noite inteira rezando em sua capela. Pela manhã, 25 de Julho de 1968, rezou a missa do Espírito Santo e, em seguida, encaminhou a Humanae Vitae para a publicação.

Esta é uma versão resumida da história da Humanae Vitae, que teve algumas versões preliminares, sendo que uma delas, de título De nascendi prolis, chegou a ter a aprovação do Papa, mas que voltou atrás e decidiu refazer o documento mediante sugestões de um dos tradutores do Vaticano. Mas, mesmo resumida, esta história nos dá a dimensão da submissão de Paulo VI à assistência do Espírito Santo para cumprir seu pontificado.

São Paulo VI foi incompreendido e criticado também por conta das aplicações do Concílio Vaticano II e de outros documentos, mas foi a Humanae Vitae que o fez passar por um verdadeiro martírio branco, que é assim definido quando alguém é ignorado, perseguido, ridicularizado, boicotado etc por sua fidelidade ao Evangelho. E com São Paulo VI foi assim, pois entre os fiéis católicos, mas também no meio de muitos padres e bispos, a Humanae Vitae foi ridicularizada e combatida. Algumas conferências episcopais inteiras se colocaram contra a encíclica e partiram para a crítica pública, até mesmo sugerindo que o fiéis estavam desobrigados de seguí-la. Nos Estados Unidos aconteceu um dos maiores protestos da história da Igreja com assinatura de mais de 200 teólogos renomados.

 

Diante deste quadro de perseguições e hostilidades, ao seu lado esteve sempre o Cardeal Wojtyla que se preocupava também com a assimilação pastoral da encíclica, tendo enviado a Paulo VI uma carta sugerindo algumas ações. E durante seu pontificado, São João Paulo II, o Cardeal Wojtyla, defendeu a Humanae Vitae e a teve como um dos eixos fundamentais da sua reflexão na construção da Teologia do Corpo, o estudo sobre o amor humano que conquistou a juventude. Nos EUA, afirmou em 1988 que a Humanae Vitae não é invenção do homem e que, “portanto, colocá-la em dúvida equivale a recusar ao próprio Deus a obediência da nossa inteligência”.

 

Recentemente, Papa Francisco cita na exortação Amoris Laetitia a necessidade de se redescobrir a Humanae Vitae. E foi além, beatificou e canonizou Paulo VI. Um dos trechos marcantes de sua homilia na missa de canonização: “Mesmo nas fadigas e no meio das incompreensões, Paulo VI testemunhou de forma apaixonada a beleza e a alegria de seguir totalmente Jesus. Hoje continua a exortar-nos, juntamente com o Concílio de que foi sábio timoneiro, a que vivamos a nossa vocação comum: a vocação universal à santidade; não às meias medidas, mas à santidade.

 

Fato interessante é que os dois milagres de Paulo VI comprovados para sua beatificação e canonização estão relacionados com a vida nascente.

 

Nos Estados Unidos, um bebê de 24 semanas de gestação padecia com a ruptura da bolsa e perda do líquido amniótico da mãe. Os médicos previam sua morte no ventre materno ou nascimento com problemas renais gravíssimos e recomendaram a interrupção da gravidez, ou seja, um aborto. A avó desse bebê recebeu a recomendação de rezar a Paulo VI e colocou uma estampa dele no ventre da mãe, pedindo sua intercessão. Repetiram as orações em família e também em comunidade e a saúde foi sendo restabelecida e o bebê nasceu com 39 semanas e em boas condições de saúde!

 

O milagre da canonização também aconteceu com uma grávida, que foi hospitalizada com 13 semanas com perda de líquido amniótico. Ela recebeu alta, mas continuava perdendo líquido e sangue. Os médicos recomendaram o aborto para o salvamento da mãe. Ao saberem da beatificação, essa mãe com o esposo e o primeiro filho foram pedir pelo bebê no santuário onde Paulo VI costumava rezar. O bebê nasceu prematuro e necessitou de cuidados intensivos, mas não teve nenhuma sequela.

 

Temos mais um grande intercessor para defender a vida e rezar por nossa missão!

No mínimo curioso é o fato de, exatamente no ano em que a Vitae, o mais combatido documento da história da Igreja, completou 50 anos (2018), o Papa Francisco canonizou Paulo VI.

 

Texto de André Parreira, casado e pai de sete filhos, empresário e consultor em Tecnologia Educacional, Mestre em Tecnologia, Doutorando em Ensino e Divulgação Científica. Atua na formação de noivos e acompanhamento de casais. É escritor de artigos e livros sobre Matrimônio e Família  e, atualmente, membro da Assessoria Pedagógica Nacional da Pastoral Familiar (CNPF/CNBB)

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